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O concurso Tux Libras: concurso de design do Tux para Língua Brasileira de Sinais pretende ser uma forma de:
- Divulgar a cultura surda nas comunidades de Software Livre;
- Integrar o surdo na filosofia do software livre;
- Divulgar a Língua de Sinais Brasileiras (LIBRAS);
- Contribuir com a comunicação, usabilidade e acessibilidade dos surdos;
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Interface, comunicação, acessibilidade, usabilidade, software livre,
surdos, ouvintes, LIBRAS. A partir destes conceitos, surgiu a idéia
do
Tux Libras: Concurso para design do Tux para Língua de Sinais.
A usabilidade, comunicação e acessibilidade são propriedades que
envolvem a qualidade de uso de sistemas associados à interação do
usuário com a interface. Estão presentes na
Interação Humano-Computador (IHC) abrangendo os aspectos
relacionados ao
design e interação entre pessoas e computadores. São propriedades
que, em seu conjunto, visam garantir a flexibilidade, a
facilidade e qualidade de uso de uma interface, de forma a atender
às
necessidades de um maior número de pessoas. Fazendo uma ligação
destas
propriedades da IHC a linguagem e pessoas, destaca-se neste concurso
o
público surdo.
Vale aqui um breve explicação de
terminologias
usadas para se referir ao público surdo. O termo surdo é visto, pela
grande maioria das pessoas, como uma maneira ofensiva de se dirigir
ao
sujeito que tem perda auditiva. E por isso, preferem utilizar uma
forma
mais suave e optam por chamá-lo de deficiente auditivo. Entretanto,
esta
forma suave pode ser considerada até mesmo agressiva para os surdos.
Deficiente remete a não ser capaz, insuficiente, insatisfatório.
O surdo
é apenas diferente, não deficiente. Por questões históricas, o surdo
foi visto e ainda é visto como incapaz de se comunicar, aprender, se
manifestar, pensar, escrever, se integrar. Esta visão limitada é, muitas vezes, maior que própria limitação auditiva dos surdos. O surdo, mesmo sendo
privado em um dos sentidos, é capaz de interagir e aprender, criar,
se
comunicar. A deficiência auditiva, por sua vez, é a diferença
entre o
desempenho do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora
várias frequências por decibéis (dB), de acordo com padrões
estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI). A
audição normal corresponde à habilidade para detectar sons de 20 dB
(uma
conversação normal varia de 40 a 60 dB). As pessoas com com níveis
de
perda auditiva leve (perda entre 20 e 40 dB), moderada (perdas entre
40 e
60 dB) e severa (perdas entre 60 e 80) são mais frequentemente
chamados
de deficientes auditivos, enquanto os indivíduos com níveis de perda
auditiva profunda (perdas acima de 80 db) são chamados surdos.
Avançando na linguagem e suas peculiaridades, encontramos uma outra língua que é utilizada dentro do Brasil e é pouco conhecida pela maioria das pessoas: LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). LIBRAS é a língua utilizada pelos surdos, no Brasil, para se comunicarem. LIBRAS não é uma língua universal. Há outras linguas de sinais utilizadas por surdos em outros países: a Lingua Americana de Sinais (ASL), a Língua
Gestual Portuguesa (LGP), Língua de Sinais Espanhola (LSE) etc. E mesmo no Brasil, há
diferenças. É como ocorre na lingua portuguesa. Há os regionalismos
linguísticos. E por isso, pode haver diferenças de sinais para uma mesma palavra, tanto em termos de língua de sinais em diferentes países, quanto em LIBRAS.
Como a língua de sinais é uma língua de característica espaço-visual,
não necessita de audição para ser adquirida. Logo, caracteriza-se como a primeira língua
(língua natural) dos surdos. No Brasil, LIBRAS é a primeira língua dos
surdos, sendo a língua portuguesa a sua 2a. língua. LIBRAS se caracteriza pela configuração de mãos, movimento, localização, ponto de articulação que combinados formam um único sinal. Comparando-se a palavra em língua portuguesa com o sinal em LIBRAS, percebe-se que escrita alfabética portuguesa não contém o mesmo significado das palavras em língua de sinais. Um único sinal pode representar uma ou mais palavras em língua portuguesa.
A partir destas diferenças linguísticas, há um grande problema de acesso às informações pelos surdos. A maioria dos problemas enfrentados por eles (crianças e adultos) refere-se justamente ao acesso às informações, pois grande parte delas está disponível nos veículos de comunicação, em livros, em sites etc, em uma língua que não é a língua natural dos surdos, LIBRAS, mas sim em língua portuguesa. Como o pensamento do surdo organiza-se em função da língua de sinais, mesmo os surdos alfabetizados apresentam dificuldades com a língua portuguesa. O nível de dificuldade do aluno surdo com as palavras em língua portuguesa perpassam por questões de sua educação e são legítimas e naturais, pois o surdo, em sua grande maioria, não tem domínio ainda de sua 2a. língua, a língua portuguesa. Isso é o fator chave que dificulta a compreensão, pelos surdos, dos textos em língua portuguesa. Além disso, o surdo está inserido em uma comunidade, em que, a maioria das pessoas são ouvintes e não conhecem a cultura surda. O que novamente colabora para um ruído na comunicação entres surdos e ouvintes.
Como o surdo não pode ouvir e tem como língua natural uma língua de características espaço-visual, a sua percepção do mundo digital ou real se dá por outras manifestações não verbais, nem textuais. Desta forma, a leitura (em todos os contextos nos quais se insere) realizada pelo surdo é visual. A linguagem então avança além dos símbolos da língua portuguesa e perpassa pelas imagens, ícones relacionando a forma ao conteúdo, possibilitando desta forma uma significação do conceito ou idéia.
A informação digital ou impressa, em suas diferenças formas, é uma das necessidades essenciais para o ser humano. A partir desta perspectiva, este concurso se constitui como uma possibilidade de colaborar e possibilitar a comunicação, usabilidade, acessibilidade do surdos na interação com os sistemas que veiculam informação avançando pela área de design, interação humano-computador, ícones, linguagem não verbal: O Tux Libras. Além de contribuir para a divulgação da cultura surda, suas particularidades e especificidades linguísticas.
Levando em consideração a grande contribuição que o Software
Livre traz à Inclusão Digital, com seu espírito cooperativo e a sua
disposição para ajudar, desejamos levar a questão da Inclusão destas pessoas com necessidades especiais ao Universo Digital. A
comunidade do Software Livre, que tanto já contribuiu com projetos já
incluídos ao Orca, dentre outros projetos que já existem, pode também
nos ajudar a dar este impulso inicial em direção à inclusão do surdo
que, apesar de sua aparente diferença, se torna totalmente igual dentro
do universo Digital.
Letícia Capelão de Souza leticiacapelaoprof@gmail.com Professora no DCC/UFMG; Colaboradora do Texto Livre; Doutoranda em Linguística Aplicada (Linguagem e Tecnologia) na FALE/UFMG;
Mestre em Tecnologia (Educação Tecnológica) CEFET-MG; Instrucional Designer para EAD Virtual (em curso); Especialista em Novas Tecnologias em Educação e Treinamento; Licenciada
em Informática e Física; Bacharel em Ciência da Computação. Integrante e colaboradora do MAIS (Movimento de Apoio a Inclusão do Surdo na Universidade); Integrante e criadora do Para Surdos e Rede Social Para Surdos
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